segunda-feira, 22 de outubro de 2007


Recebi um telefone hoje de manhã. Era meu irmão me ligando. Com uma voz embargada, me disse que estava deixando o hospital e indo para casa. Ele havia acabado de receber alta e me ligou pra comunicar. E chorou ao falar comigo. Eu agradeci a Deus por estar recebendo aquele telefonema, já que dias antes eu temia receber a ligação de outra pessoa qualquer me dando notícias bem ruins sobre ele. Chorei muito por esses dias todos por conta disso...
De modo impressionante senti minha fé renovar-se mais do que nunca nas últimas semanas. Falo de fé independente de religião, de crença. Falo de uma fé numa força maior, criadora, a quem sempre me apeguei em momentos de maior apuro (infelizmente a gente só lembra ser uma pequenina peça da máquina do mundo nesses momentos). Uma fé que tem cara e nome diferentes pra cada pessoa – até para os que se dizem ateus. Não vi formas de suportar a dor – e ajudar minha família, mesmo a distância, a suportar a mesma dor que nos corroeu – a não ser pela força dessa fé. Queria que toda a minha energia e pensamento positivo chegassem até meu irmão.
Meus pensamentos chegaram a me trair, a me fazer imaginar coisas, coisas péssimas, sensações ruins, medos. Paranóias vinham e me tomavam conta da cabeça. Mas seja pela força dessa fé ou não, tudo está em paz agora. E me pergunto: qual o balanço disso tudo? O que tiro de bom dessa terrível experiência?
Acho que o maior valor que venho tentando dar a minha vida e às pessoas que fazem parte dela é a melhor resposta a essas perguntas. E como cada vez mais acredito na força das energias boas que circulam no universo, só posso desejar que elas estejam sempre presentes no existir de cada ser que faz por merecê-las.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

O tempo, os jacarandás, os ipês...


A vontade de escrever esbarra em tantos obstáculos que vão se criando... Seria bom ter a oportunidade de escrever sempre que a vontade viesse; e não, simplesmente, marcar data e hora pra colocar em palavras o que a gente vem processando da vida nos últimos dias. O fato é que as coisas vão se atropelando no dia-a-dia. Tantos protocolos a cumprir e junto disso tanta coisa acontecendo na nossa frente. E eu com uma vontade louca de parar, sentar e escrever. Mas meu ônibus está chegando. Fica pra mais tarde. Ops! Mais uma vez de pé, mochila pesada nas costas, gente que empurra e vai, gente que empurra e fica. “Gente, que empurra-empurra é esse?”
Outro dia mesmo estive reparando na primavera. E não pude escrever sobre ela, porque vi a primavera assim na rua, correndo, rápida – tal qual o tempo, senhor de tudo. E não pude tocá-la. Mas acho que guardei a sensação. Uma das coisas mais bonitas que aprendi nos últimos tempos foi reparar nas mudanças que as diferentes estações do ano provocam. E é tão bom sentir a pulsação da natureza, explodindo imensa na flor do jacarandá, que vai arroxeando caminhos, calçadas, longe, perto, sujando o quintal, estendendo o tapete colorido pra que a gente, na pressa, pise e repare, toque e perceba. E a gente não percebe, passa direto. Mas eu tenho tentado fixar, como uma câmera fotográfica – essas imagens que me passam diante dos olhos a cada novo dia.
Então escrevo só hoje sobre a sensação primaveril que me tomou (talvez isto já esteja um pouco piegas). Confesso que fico meio bobo diante dessas coisas, que certamente passam despercebidas para os outros milhões de pessoas que diariamente se sufocam, se empurram, se aventuram na grande cidade. Passam, passam... Os jacarandás e os ipês (tão efêmeros!). Pela janela do ônibus, mas passam. E acho que já não cabem mais desculpas por não ter reparado. A gente não precisa ficar velho pra ser nostálgico e sentimental (tem gente que pensa assim, infelizmente). Enquanto o tempo passa, a vida acontece. A flor floreia o verde novo, forra o chão de cor e a gente finge que não está nem aí... Só pra ganhar mais tempo. E pra quê?