sexta-feira, 5 de outubro de 2007

O tempo, os jacarandás, os ipês...


A vontade de escrever esbarra em tantos obstáculos que vão se criando... Seria bom ter a oportunidade de escrever sempre que a vontade viesse; e não, simplesmente, marcar data e hora pra colocar em palavras o que a gente vem processando da vida nos últimos dias. O fato é que as coisas vão se atropelando no dia-a-dia. Tantos protocolos a cumprir e junto disso tanta coisa acontecendo na nossa frente. E eu com uma vontade louca de parar, sentar e escrever. Mas meu ônibus está chegando. Fica pra mais tarde. Ops! Mais uma vez de pé, mochila pesada nas costas, gente que empurra e vai, gente que empurra e fica. “Gente, que empurra-empurra é esse?”
Outro dia mesmo estive reparando na primavera. E não pude escrever sobre ela, porque vi a primavera assim na rua, correndo, rápida – tal qual o tempo, senhor de tudo. E não pude tocá-la. Mas acho que guardei a sensação. Uma das coisas mais bonitas que aprendi nos últimos tempos foi reparar nas mudanças que as diferentes estações do ano provocam. E é tão bom sentir a pulsação da natureza, explodindo imensa na flor do jacarandá, que vai arroxeando caminhos, calçadas, longe, perto, sujando o quintal, estendendo o tapete colorido pra que a gente, na pressa, pise e repare, toque e perceba. E a gente não percebe, passa direto. Mas eu tenho tentado fixar, como uma câmera fotográfica – essas imagens que me passam diante dos olhos a cada novo dia.
Então escrevo só hoje sobre a sensação primaveril que me tomou (talvez isto já esteja um pouco piegas). Confesso que fico meio bobo diante dessas coisas, que certamente passam despercebidas para os outros milhões de pessoas que diariamente se sufocam, se empurram, se aventuram na grande cidade. Passam, passam... Os jacarandás e os ipês (tão efêmeros!). Pela janela do ônibus, mas passam. E acho que já não cabem mais desculpas por não ter reparado. A gente não precisa ficar velho pra ser nostálgico e sentimental (tem gente que pensa assim, infelizmente). Enquanto o tempo passa, a vida acontece. A flor floreia o verde novo, forra o chão de cor e a gente finge que não está nem aí... Só pra ganhar mais tempo. E pra quê?

3 comentários:

Igor Pushinov disse...

Acho que estou precisando da primavera tbm... O tempo? Nem me fale, porque o tempo chega a me rasgar no peito pedindo uma posição minha perante a vida e às minhas escolhas... No mais, acho que amo e por amar sinto o tempo mais leve passando por mim!

Meio assim... disse...

Essa coisa de efemeridade tem dado-me calafrios.
E tenho gostado disso: dos calafrios e das efemeridades.

Anônimo disse...

Ai, ai... Porque é primavera... Te amo, é primavera, te amo...

Seu texto me falou tantas coisas. Hoje o tempo esteve lento, lento. E nessa cidade nem um ser. Toda uma solidão. E meus olhos nem conseguem ver direito o mundo. É primavera? Tá bonito? Como disse o Igor quando a gente ama, vai observando as coisas de um jeito mais bonito, dá uma certa calma. Mas quando a gente ama errado, a calma é toda invertida. A cidade de São Paulo tem muitas coisas lindas pra gente ver, sentir, apreciar. Mas o tempo sempre falta. Há dias em que há tempo. Esses dias o tempo foi passando de uma maneira tão lenta, vc nem imagina. Mas nesses dias, o olhar está seco.

Saudade de vc. Beijos. Camila.