segunda-feira, 13 de agosto de 2007

A memória insiste, persiste...


Tenho sentido umas saudades de bons momentos e, óbvio, das pessoas que participaram desses momentos. Sinto falta delas e acho que acabo me deprimindo diante da inescapável condição de nossa existência: o tempo passa, as coisas acabam e a gente vai ficando só com a sensação do mergulho intenso que foram alguns instantes. Podem até ter sido banais, mas quando passam (parecendo até que jamais voltarão) deixam uma saudade doída, uma vontade de apertar o Rew da vida e ver (pelo menos, ver) tudo de novo. Por que será que é assim?
Será que ando apegado demais a isso? Ando cobrando de mim e de outros coisas que parecem já não fazer sentido... E isso dói tanto! Ainda não tô a fim de admitir que perdi muita coisa e que só tenho as lembranças de cada coisa. Acho que por um tempo ainda posso me enganar e acreditar que estou com paranóias infundadas. E confesso: gostaria muito, às vezes, de não guardar nada desses momentos. A persistência da memória tem me feito mal...

16 comentários:

Sol disse...
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Sol disse...
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Sol disse...

O que dói mais?

Ter tanto o que guardar ou botar toda a memória a perder? Se desligar do passado, não ter sabido nunca o que se foi, viver do que será (ou viver daquilo que é, sempre o mais difícil), qual é a alternativa da nossa vontade? Em qual delas se instalar para viver com alguma sanidade mínima?

A memória deve ser abandonada? O passado teria que ser definitivamente superado, sem as devidas cerimônias fúnebres ou as de passagem, sem qualquer interesse sobre o que se foi?

É preciso, o tempo todo, alcançar o novo? Nos desvencilhar do aprendizado e felicidade anteriores? Fazer-nos livres de nossa história e seu peso?

O mundo está grande, parece que a História dos homens não cabe mais, não tem futuro (porque só ter futuro, só viver de futuro é ser incapaz de construí-lo), talvez deixemos as memórias presas em museus e arquivos de e-mails antigos q jamais visitamos.

Onde (Quando? Como?) será que desaprendemos a costurar a nossa vida com uma mesma linha contínua, com aquele nós que nos reforçaram e os pontos mágicos que nos fizeram brilhar de alegria na feitura?

Por que não aprender com nossas próprias experiências (sentidas e vividas) mas só com a ordem do dia? Com a nova maneira (sempre nova, ainda que falsa) de ser feliz?

Recordar, afinal, deixará de ser uma dádiva humana?

Sol disse...

Memória

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão

Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão.


CDA

Bruu disse...

O passado nunca é passado.
Esses dias eu li em algum lugar essa frase e achei interessante. Ando pensando bastante nela.

E quanto ao "tempo que vc nao aproveitou", lembre-se que nunca é tarde pra nada.

Anônimo disse...

Terra,
um dia comerá meus olhos
Eles eram, no entanto,
o seu verde mais vivo,
eles eram os teus pintores.

E onde quer que seja
Onde quer que esteja
Eu me lembrarei de ti,
minha Terra em flor.

Algo, assim, Mário Quintana, que li faz muito tempo, e trago de memória... Um beijo.

Adriana disse...

"Ando cobrando de mim e de outros coisas que parecem já não fazer sentido..."
Nossa Gil, com essa frase você conseguiu expressar o que há muito venho sentindo e não achava as palavras pra descrever. Fico em dúvida se é bom ficar remoendo as lembranças, sejam elas boas ou ruins, ou se gostaria que existisse algo do tipo Lacuna ink, pra apagar tudo enão haver mais essas saudades doídas.

Gil disse...

S� pra justificar os posts que foram apagados acima: n�o se trata de censura (rsrs). Foi s� a Sol, com todo seu perfeccionismo, que mandou apagar o que ela tinha escrito porque tinha algo errado, ok?

Acho legais essas discuss�es que os blogs provocam... Acho �timo tamb�m conseguir despertar nas pessoas ao menos algumas coisas do que tento passar nos meus textos. E �s vezes a gente se sente t�o mal e t�o � flor da pele que nossos textos refletem nosso pior estado (�bvio!).
E quanto a toda essa discuss�o sobre a mem�ria, acho que acabo preferindo ficar com ela, viu, Dri... Essa dor � das boas, sabe? Mas o sentimento da perda do que passou, ah, isso � complicado. � terr�vel...

Anônimo disse...

O que vc tem escrito (e sentido) reflete um pouco o que venho tentando assimilar: crescer dói.
Sinto uma saudade imensa de quando a gente se conheceu. Não pelo "ineditismo" da coisa toda... mas porque a vida, de certa forma e num âmbito mais geral, parecia-me mais leve. O que sinto agora (e espero que vc não compactue pois basta uma pessoa neurótica) é que a vida tem andado pesada. Penso que tudo o que eu decidir agora, na fase em que estou, será muito definitivo. Antes dava a sensação que eu poderia voltar, arrumar, fazer diferente... mas agora parece que tudo é definitivo, que cada escolha refletirá de maneira decisiva no resto da minha vida.
É loucura? Ando bebendo demais? Ou de menos?
Beijo, Gil.

Meio assim... disse...

Óia eu aqui...

http://penseiandando.blogspot.com

Anônimo disse...

Essa memória judia da gente, seu moço.
E tem coisas que não se apagam nunca, nunquinha.
Já sou velho, já sou do antigamente.
Os anos araram meu rosto, podaram minhas mãos,
colheram o brilho dos meus olhos. Crestadas no impiedoso
Sol dos trópicos murcharam-se boca e língua.
Aqui no meu canto, quarto escuro, vivo entrevado como pau podre.
Um computador me faz companhia.
Num tenho medo do novo, seu moço.
A cabeça ainda é boa, seu moço.
E me lembro.
Eu lembro dele. De quando eu era alegre e jovem.
Teve outras, mas no agora estou me lembrando é dele.
Que eu me contorça nos infernos, que a verdade é que
eu desejava.
Cobiçava com a fome dos esfaimados todos.
Com a sede dos boquissecos todos.
Nas vigílias, nas meditações, diante da minha
Igreja da Consolação eu pedia perdão pra Santa, que
eu não queria ser vil, nojento, na lama do lodo da merda
de gente da vida que vê desgraça no choro do outro.
Que entre eu e ele tinha um outro, seu moço.
Não, não minha Santa, afastasse de mim as ardências
da boca cobrindo os dentinhos tortos, os olhinhos
pequenos amarelecidos apertados, úmidos, da língua minha
na orelha aquela; do anular alisando a bunda procurando
o ânus, então úmido, arfando no urro do toque meu no daquele.
Não, não minha Santa, santos todos, meu Deus, arredasse o
meu bafo quente, úmido, do pênis dele, que então engoliria,
tomando pra mim, como serpente engolindo o próprio rabo,
tornando um comigo, me alimentando de mim mesmo e
criando um terceiro ser renascido da completude, concebido do
tesão que já chamemos, sem medo, de paixão, parido no estorço de um
corpo se gemendo de delírio, batizado pela pura branquidão da
porra flamejante, abrasadora, cáustica, sobeja e minha.
Sobre a pele morena ouro, elétrica, convulsa e dele.
E orava consternado nas escadarias frias, os anjos
abençoassem aquele outro que me vedava a vereda: ele
tinha o que me consumia os dias, ele tocava o que era
criação em mim, ele gozava desfalecente, e úmido, o
que eu intuía em minhas masturbações, abençoado fosse
para todo o sempre.
Então, cansado e coberto de sereno, me relampejava a idéia
de que o outro fosse iluminado a ter piedade de seus irmãos.
Que ter só pro desfrute seu o que o Criador pôs na Terra pra
deleite da humanidade toda era pecado dos mais medonhos,
avareza de espírito, subtração de compaixão.
Que um novo tempo se abatesse sobre os homens
e as posses várias fossem galvanizadas pelo ideal
do amor. E a verdade de que dar prazer é uma
dádiva oferecida ao próximo sem que isso
signifique tomá-lo para si e toldar-lhe o tênue
fio da liberdade fosse clara, nova, escandalosa,
inconteste como uma Lua vermelha tingindo de
púrpura a todos os viventes.
Hoje não rezo mais, seu moço.
Aquela paixão irrefreável foi o Mar Vermelho, na
glória dum dia da fuga de Moisés, que cindiu minha
existência.
Por isso talvez a lembre aqui, sob o pó dessas cobertas,
olhando uma réstia de luz pela janela mal fechada.
Nem pedia muito. Teria sido o suficiente para uma
fé eterna capaz de curar feridas, tirar demônios
e ressuscitar os mortos.
Só ficou-me a memória da Força de um Desejo.
E nela que me agarro para suportar o tiquinho, inho
de vida que me resta.
Paro aqui. É hora do remédio.
Queira Ele, o que me abandonou, seja o último.

Gil disse...

Achei o comentário anterior meio pesado (hehe). Mas vou respeitar a "expressividade" que tomou conta do amigo anônimo aí... (e, por favor, não se ofenda, mas não gosto de anonimato! Já aviso que o próximo será apagado, independente de conteúdo).
Mel, Mel... acho que ando tão neurótico quanto. O medo de errar e de esse erro ser definitivo me persegue cada vez mais. Precisamos beber mais! Hahaha.

Sol disse...

Quem é esse anônimo????

Fiquei na ânsia de querer comentar seu texto.




Bom, se o dono não aparecer, ao menos os outros podem comentar comigo: o texto bem que parece uma versão, uma releitura, uma paródia séria de "Grande Sertão:Veredas", até a palavra vereda aparece no texto.

Sou a única maluca, ou não parece bastante q tentou-se imitar o seu Rosa?

Anônimo disse...

Abram-se as cortinas para o último ato. Olhos exaltados na platéia. Não tem por quê.
Para mim foi difícil e até admirável a tua exigência pelo fim do Anonimato.
O que era o jogo da brincadeira de um prazeroso baile de máscaras, que uma hora obviamente iria se desfazer, acabou-se com o dono da festa ordenando que parassem a música e se descobrissem todos.
Por que ele agiria assim? O medo de lidar com o desconhecido é tão aterrorizante?
Por outro lado, caríssimo, há bom argumento de que este palco não é lugar para covardes. Que todos enfrentem a vida e saiam às ruas lançar suas caras ao sol, pai temível.
Queira perdoar, não pude.
Posto que seja um direito incoercível teu o de ditar as regras de um espaço criado e mantido e estimado por você, não pude. Não quero.
Preferi vestir-me de poesia e sair na noite fumarenta. Era só o que podia e queria ser, boa ou má, pura poesia noturna.
Também te está garantido o desejo de não gostar do que eu escrevi, da minha ficção, da minha arte. Mas, tenho a impressão de que o comentário sobre meu último texto (“meio pesado (hehe)”), foi meio decepcionante. Esperava mais senso crítico. E depois atalhou com uma ponta de deboche, com uma cutilada de impiedade: “Mas vou respeitar a "expressividade" que tomou conta do amigo anônimo aí...”.
Adeus. Voltaremos a nos blogar, um dia, num tempo de maior delicadeza. Tua e minha.
“Depois de te perder,
te encontro com certeza
Talvez no tempo da delicadeza
Onde não diremos nada,
nada aconteceu
Apenas seguirei
como encantado ao lado teu”
Chico Buarque.

Gil disse...

Vc já está conseguindo me divertir, Sr. (ou Sra.)anônimo. Nem consegui cumprir com minha palavra de não aceitar o próximo comentário anônimo. Fazer o quê? A vida é um eterno desdizer-se.

Matematicando disse...

..."mais um lírio colhido no jardim da vida (se eu fosse mulher, seriam rosas – como rio disso tudo)"...

Porque não rosas?
Ofertar flores é mostrar p/ a pessoa o qanto ela é especial...não tem nada a ver com sexo/sexalidade...bobão!