segunda-feira, 12 de maio de 2008

Sarau


Escrevo um novo texto, rabisco, escrevo de novo. Construo e destruo. Leio e releio. Olho, de soslaio, resolvo, invoco, revolvo, enterro, detesto, amo. Penso e concluo: melhor prosa. Prosa flui, prosa amarra, prosa engendra. E o poema? Encanta, liberta, “ritmiza”, re-significa, alimenta. Gosto de ambos. Ambos tratam de língua, de signo, têm som, cor, cheiro, são cheios de eclipses, elipses, clips. E tudo cabe. Tudo entra. Tudo sabe. São multi. São muitos. São textos. Leio-os.
Trago-os.
O clima mais frio pede um aconchego de palavras bonitas e que brincam bonitamente com o sentido. Nada impede, porém, que um calor de trinta graus também seja inspiração. A luz se apaga e dá lugar à claridade das palavras bem amarradas. Grandes nomes são lembrados, versos populares celebrados. Bonito é ver a pedra do caminho re-significada pela nova entonação que se dá ali, no ambiente propício ao devaneio, ao novo entendimento, à nova compreensão das coisas. Novos olhares sobre o porquinho da índia, a princípio bobo, de início infantil, mas de sentido tão vasto quanto o mundo de seu Raimundo, de seu José e de sua valsa vienense – a qual ele ainda se recusa a tocar.
E o toque, o som, o som do toque no instrumento abre as portas pra canção, pra celebração, pro violão, pra percussão. E o novo enfoque são as notas agudas e graves que rompem as cordas do instrumento. Da voz.
“Notas musicais dentre bolas de sabão” – com as devidas aspas –, espalham-se e misturam-se ao cheiro aceso da parafina, da bebida que enleva, que refresca, que relaxa. Abrem-se as portas ao sorriso fácil, à piada, ao sarro. E o ar sério e compenetrado da declamação é transformado. E assim fica marcado mais um encontro. E assim celebra-se mais uma noite de sarau.

2 comentários:

Anônimo disse...

Eu ficaria uma semana no sarau, no meio de poesis e vozes bonitas. Com muitos sorrisos, gestos sérios, leves, engraçados... Eu ficaria toda uma semana para resgatar a poesia em mim, o meu olhar sobre as coisas, um jeito de sentir mais por completo.

Ficaria uma semana entre amigos queridos, sem pensar no mundo lá de fora, no meio da nossa bruxaria, das nossas velas, da nossa intimidade, do nosso frio aquecido pelo amor. Ficaria uma semana no nosso sarau, como em oração, aquietando o coração e a mente, acreditando.

Beijos saudosos. A nossa maneira poética de reunir os amigos queridos não pode morrer. Jamais.

Mais beijos dessa menina cheia de tpm e descrença. Segunda-feira poderia virar sábado, pelo menos um pouquinho.

Camila

Meio assim... disse...

Agora me fez mais falta do que antes... Por que será?