domingo, 28 de junho de 2009

O meu rio


Estou bem sim. Meio cambaleante, alternando momentos de contentamento e momentos de extrema insatisfação. Mas estou bem sim. Bem como deveria, bem como qualquer pessoa normal. Nada fora dos padrões. Só que a questão é que não fico nada feliz, tampouco ansioso, por imaginar que minha vida será assim. Mas será. Será? Seguindo o que almejo para mim mesmo, não será. Não quero, não posso e não devo.
Eu me assusto comigo. Eu me assusto com os outros. Sempre tão difícil perceber o que querem as pessoas... Adivinhar reações e expectativas não é o meu forte, definitivamente. Eu mal sei como eu mesmo irei reagir ao que me vem na próxima onda... Esse mar é salgado demais. Prefiro o doce da água do rio que sereno desliza entre pedras e as vence com força lapidadora, porém delicada. O que ninguém nos ensina é que a vida é esse imenso mar salgado que corre feito rio – pois tudo está em constante mutação devido ao ciclo das coisas. E ciclo é círculo, que roda, roda, roda e retorna ao ponto de onde partiu.
É por isso que estou bem. Porque no fundo tudo é sempre previsível, tudo acontece como sempre se imagina, da melhor ou da pior maneira. O problema é que eu acho que nunca aprenderei a me contentar com a inconstância constante da vida e das coisas que a preenchem.

***

Na semana que passou, vi Fernanda Montenegro no palco encenando trechos de cartas e livros de Simone de Beauvoir. Como disse um dos meus amigos: catártico! Mas me parece que a minha catarse com a encenação ainda não se completou. Até porque é preciso experimentar muito mais desse mundo do qual falava Simone, e no qual existiu Jean-Paul Sartre. Porque somos outra geração que já encontrou o mundo com as portas da transgressão abertas. Mas como me fazem refletir as palavras fortes de Simone sobre o mundo e as pessoas que estão nele... A chave é a reflexão, ainda que ela não leve a nada. Existo, logo penso.

***

E o que tudo isso tem a ver? Essas palavras todas me vieram por acaso? Parece sim haver um fio que une tudo isso. O Existencialismo de Sartre e Beauvoir ensinou que somos responsáveis pelo que somos, pelo que fazemos e pelo que nos tornaremos. É por isso que não aceito a monótona e previsível vida que se desenha. Tudo até pode ser um imenso ciclo, mas quero, posso e devo escolher o percurso do meu rio.

4 comentários:

Meio assim... disse...

"Na barranceira do rio
O ingá se debruçou
E a fruta que era madura
A correnteza levou, a correnteza levou"

O rio nem sempre é tão calmo assim. E a calmaria que a gente acha que existe em nossas vidas na verdade encobre muitas pedras e desvios. Mas o caminho nós traçamos, mesmo que tenhamos que desviar algumas vezes, achando que fazemos isso contra a nossa vontade. Na verdade, deve estar tudo implicito. E teu poder, nosso poder de mudança vem com uma força que arrebenta qualquer correnteza.
Acredite.
Acredito!

Anônimo disse...

Também acho que a calma é só aparente. Também acho que somos responsáveis pelas nossas escolhas. Também acho que temos o poder de arrebentar correntezas. Talvez arrebentemos a cara, mas penso que isso faz parte do processo.
Como canta o Lenine: "se acredita, tenta".

camila disse...

amore... espero estar sempre perto desse rio que vc é...

e tb acho, como nossas bonitas disseram, que podemos arreebentar correntezas... às vezes o rio parado cansa... eu sei... mas é nessas horas, é com esse cansaço de estar no mesmo lugar... é assim que ficamos fortes... fortes para transbordar...

e eu acredito em vc.

beijos

Igor Pushinov disse...

O bom de um rio é que ele corre... ele anda e nunca fica parado... vai em busca de uma imensidão azul que chamamos mar...

Todo rio é, por natureza, fluente... assim como a vida! Flui em busca, flui ao encontro, flui pra entrega...

É muito bom ver em ti tudo isso...